quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
EU - profissional
Trabalho na àrea da saúde e hoje perdi um doente.
Sinto-me devastada interiormente... uma sensação dificil de explicar e ainda mais difícil de sentir.
Esta noite senti o anjo da morte a vir buscar aquela vida entregue aos meus cuidados e eu não fui capaz de ajudar...
Acredito sempre, talvez para meu próprio consolo, que já tinha de ser... quando chega definitivamente a nossa vez não há pessoa, máquina ou medicação que impeça a força de morte tal como nada nem ninguém consegue controlar a força da vida quando ela quer irromper do seio materno. A verdade é que ficamos sempre, quer queiramos quer não não uma sensação de inutilidade, de imobilidade com a eterna dúvida: "Será que fizemos mesmo tudo o que estava ao nosso alcance?".
O sábio senhor que morreu em nossos braços, a quem toda a equipa se teinha afeiçoado, hoje teve uma morte súbita, inesperada e cheia de terror nos olhos, são essas imagens que guardamos que não nos deixam dormir quando chegamos à nossa cama e embora as tentemos apagar elas jamais são esquecidas. Nunca tive medo da morte em si mas sim do sofrimento e da dor que ela pode trazer consigo, disso sim, tenho medo. Ao longo de todos estes anos vivendo num mundo à parte, movendo-me num espaço entre a não vida e a não morte sempre tive a sensação que o anjo da morte vinha trazer a paz à pessoa, esta noite fiquei a duvidar disso.
Desculpem desabafar convosco mas tinha de partilhar tudo isto que me vai cá dentro senão fica a fazer-me mal.
Na escola aprendi "a não me envolver, a não partilhar dos problemas dos outros, a deixar o trabalho lá e não o trazer connosco" eu reconheço que são sábios conselhos que eu tento seguir para o bem da minha saúde mental mas nunca consigo. A teoria é uma coisa, na prática tudo isto envolve sentimentos, envolve emoções, refere-se à vida e à morte, como não sermos tocados? como não verter uma lágrima? Como? Se alguém souber alguma receita agradeço que ma dê porque eu desconheço.
Talvez por viver entre este mundo escuro entre a não vida e a não morte que dou tanto valor à verdadeira VIDA (com responsabilidade, com dignidade e com qualidade que é a única forma de a viver longa e verdadeiramente).
Deixo aqui um adeus aquele que cuidei e um obrigada a todas as colegas que comigo partilharam esta perda e como eu sentem tudo aquilo que as palavras não conseguem expressar mas é difícil carregar - A dor dos outros.
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2 comentários:
O deixarmo-nos tocar pelos outros, seja na alegria ou no sofrimento é o que faz de nós humanos.
o anónimo anterior esqueceu-se de se identificar mas é a tua amiga peregrina isabel. bjs
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