terça-feira, 22 de junho de 2010
"Linha de montagem"
Permita-me ques, lhe confesse que iniciei ontem o meu estágio em sala de partos num hospital do Norte e vim de lá completamente transtornada. Já me tinha preparado psicologicamente para não ir encontrar o ideal mas o que encontrei foi muito pior do que esperava.
Por rotina todas as mulheres são induzidas, algaliadas, analgesiadas através de cateter epidural, deitadas e "presas" ao tocografo, sujeitas a antibioterapia E.V., são tricotomizadas, fazem episitomia por rotina, afastam o bebé da mãe mal ele nasce, enfim um sem número de desumanidades ainda por cima sem explicarem nada á mulher, sem privacidade, sem nada...
Mais parece uma linha de montagem, do que um lugar sagrado de vinda ao mundo de um novo ser que Deus confiou ao mundo para cuidar.
Felizmente a nossa tutora da escola procura dentro das limitações do serviço fazer o correcto segundo as orientações da OMS arranjando discussões e problemas quer com a equipe médica quer com a equipe de enfermagem.
Ontem fiquei com três certezas, não quero de modo algum parir assim, não quero trabalhar assim, e assim não vou aprender a arte de partejar (quando muito vou aprender um conjunto de técnicas e regras importantes mas vazias se quando tudo o resto é errado).
Mas não vou cruzar os braços, vou procurar fazer a diferença enquanto lá estiver, vou aprender o que puder aprender e vou continuar a sonhar e a conversar com as pessoas que acreditam que não tem de ser assim e talvez um dia o sonho se torne realidade e a realidade seja mais doce e mais humana.
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