sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Parece que alguma bruxa me viu
Eu sabia que esta fase de 72 horas semanais entre trabalho e estágio iam ser duras mas mais duro que as horas têm sido as experiências, o stress de ter vidas nas nossas mãos no verdadeiro sentido da palavra. O bebé nasce e a mãe respira de alívio e eu tremo por todos os lados e continuo o suar porque outra parte pior se avizinha: o suturar.
Ontem dei de caras com o aborto, um nome feio mas que esconde uma realidade horrível e atroz. Para mim ser parteira era lidar com a vida e encarar a morte de fetos que sem culpa são rejeitados para mim tem sido fazer das tripas coração para enfrentar tudo isto. Uns querem tanto um bebé e eles morrem e outros tomam comprimidos para os matar. Ás vezes pergunto onde está o bom senso e os valores da humanidade, onde está o coração desta gente?
Hoje foi um dia de dois lindos partos mas como para mim tudo tem de ter um senão piquei-me com uma agulha e isso implica ficar com o coração nas mãos à espera dos resultados dos marcadores víricos. Só os profissionais de saúde que já algum dia se picaram sabem do que falo. Lá estive a tratar das primeiras burocracias porque muitas outras se aproximam. E assim foi um dos meus dias em que chego a casa de rastos e cheia de fome (porque nem tempo tive para comer). Em que só me apetece chorar e desaparecer, desistir e aninhar-me no Abraço do meu porto seguro, e com uma grande dúvida: será que algum dia conseguirei eu ser uma Parteira?
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