segunda-feira, 2 de abril de 2007

O prado das margaridas



E porque já chegou a Primavera, aqui vai mais uma história de encantar com muitas flores à mistura…

O Prado das Margaridas


Era uma vez um prado que, tal como todos os prados, era frio e coberto de neve durante o Inverno, florido e verdejante durante a Primavera. Todas as Primaveras o prado das margaridas (que é o nome deste prado que vos falo em particular) era invadido por milhares de margaridas (daí o seu nome) que enchiam a sua superfície, mas este ano era um ano diferente…
O vento norte soprava mais forte do que nos anos anteriores e trazia com ele uma nova habitante para o prado das margaridas. Uma pequena semente tinha viajado milhares de quilómetros ao sabor do vento até que por fim o vento, caprichoso como é (é do conhecimento de todos que o vento norte é dos quatro o mais caprichoso), deixou-a repousar finalmente. A notícia da chegada de uma nova residente ao prado das margaridas foi recebida por todos com grande alegria, pois novas margaridas são sempre bem-vindas. Todas as margaridas se juntaram em coro para entoarem belas canções de embalar à nova semente recém chegada, para que esta recebesse, com calma, a envolvência da terra que seria durante os próximos meses a sua cama, para que finalmente ela pudesse crescer e mostrar a todo o mundo como ela era uma bela margarida (como todos nós sabemos as margaridas são muito vaidosas e não perdem uma oportunidade de se exibir). A pequena semente que mal sabia falar, pois era muito nova, agradeceu a todas as margaridas pela sua recepção cheia de calor.
Por grande sorte (ou não) a pequena semente foi cair mesmo no centro do prado das margaridas onde vive o concelho das anciãs, que é o órgão que gere todas as outras margaridas, pois foram elas as primeiras a chegar ao prado trazidas pelo caprichoso vento norte, foi imediatamente adoptada pelas irmãs mais velhas que durante todo o dia olhavam por ela.
A pequena semente foi-se desenvolvendo e começou a germinar, todas as outras margaridas orgulhosas assistiam à sua evolução. Desde muito cedo que esta pequena semente se mostrara muito curiosa acerca de tudo o que a rodeava. Este tipo de curiosidade aborrecia todas as outras margaridas que estavam sempre a cuidar da sua beleza e não tinham tempo para aturar os devaneios da pequena ervinha (entretanto a semente tinha germinado e era agora uma bela erva). As suas perguntas eram muito aborrecidas, ela fazia perguntas do tipo: Porque é que não há outro tipo de flores no nosso prado? Porque é que o céu é azul? Porque é que as margaridas não voam?
A certa altura as margaridas do concelho das anciãs decidiram proibir a pequena ervinha de fazer perguntas estúpidas, porque as únicas perguntas que uma pequena ervinha, futura margarida, devia fazer seriam as relacionadas com a beleza das outras margaridas e que meios deve usar para atingir uma beleza igual ou superior à das anciãs.
A pequena ervinha deixou então de fazer perguntas estúpidas às anciãs e começou a aconselhar-se com as joaninhas, formigas e minhocas que por ali passeavam. Todas as outras margaridas achavam isto muito estranho, pois é certo e sabido que a maior forma de inteligência são as margaridas e todos os outros seres ou são burros ou trabalhadores demais, para poderem pensar ou sequer falar. Esta atitude da pequena ervinha foi mal recebida por parte das margaridas que várias vezes a repreenderam e castigaram por desrespeito a todas as tradições. A pequena ervinha vivia triste sem poder saciar a sua sede de conhecimento. O tempo foi passando e a ervinha foi crescendo cada vez mais e mais e mais, até chegar a uma altura tão grande que conseguia avistar todo o prado, pois tinha crescido mais do que qualquer outra margarida alguma vez tinha crescido. Este seu tamanho superior foi a gota de água para todas as outras margaridas, a pequena ervinha, futura margarida, tinha-se tornado uma aberração da natureza e muitas das anciãs arrependeram-se de lhe ter dedicado tanto tempo, era injusto terem investido tanto tempo naquela semente que afinal era uma margarida esquisita que fazia perguntas estúpidas e agora tinha-se dado à petulância de ter crescido mais do que qualquer outra margarida. A erva que agora começava a transformar-se em caule foi posta de parte por todas as margaridas e raramente lhe era dirigida a palavra. A erva sentia-se triste e só no mundo pois todas as suas irmãs margaridas a tinham abandonado.
Os seus dias eram passados a chorar e a ouvir o canto dos pássaros. A erva que entretanto já era caule tanto chorou, que decidiu começar a observar melhor o seu mundo e a fazer as tais perguntas estúpidas a quem lhe podia responder. Começou então a travar amizade com os pássaros, com os coelhos que lhe traziam todas as manhãs novidades acerca do prado e áreas circundantes, o seu conhecimento foi-se alargando de tal forma que a certa altura alguns dos animais e insectos começaram a procurá-la para que esta os pudesse ajudar. As margaridas estavam com tanta inveja do caule que começaram a dizer-lhe coisas horríveis, chamavam-lhe aberração e outras coisas piores, e o caule foi ficando cada vez mais triste, e sem coragem de viver e se transformar numa margarida. Mas, a natureza tem as suas regras e o caule começou a preparar-se para se tornar numa margarida completa. A esta altura as margaridas estavam com muita inveja do caule, pois quando desabrochasse seria a maior e mais bela margarida para sempre. Finalmente o dia do desabrochar tinha chegado e todas as margaridas estavam de olhos postos no caule, o sol começou a brilhar e a flor começou a desabrochar, as suas pétalas brancas abriram-se ao sol recebendo o seu calor e conforto tanto esperado. Foi nessa altura que todas as margaridas exclamaram: “Que margarida esquisita!!!”
A “nova margarida” ficou desolada pois mais uma vez se considerou uma aberração da natureza, não bastava ser diferente na altura e na curiosidade, tinha agora que ser diferente também na forma.
A vida no prado das margaridas continuou normalmente, todas as margaridas sempre preocupadas com a sua aparência e ignorando a “margarida esquisita” que era sempre mal tratada por todas as margaridas.
Os meses foram passando e eis que de novo o prado das margaridas foi visitado por novas formas de vida, formas de vida estas que algumas margaridas apenas tinham ouvido falar em histórias, estes seres tinham duas pernas e andavam em pé.
As margaridas puseram-se todas bonitas para que pudessem ser levadas por aqueles seres para outras paragens, os estranhos visitantes passearam-se pelo prado e as margaridas iam ouvindo os seus comentários acerca da beleza do local e das flores.
A certa altura um dos estranhos visitantes parou em frente à “margarida esquisita” e disse: “Olha que engraçado! Uma açucena no meio de tantas margaridas”.
Nessa altura todas as margaridas ficaram a saber que afinal a “margarida esquisita” era uma açucena.
O visitante pegou na açucena com muito cuidado, levou-a para a sua casa e tratou bem dela, a açucena tinha finalmente encontrado um lar.
Ainda hoje no prado das margaridas quando o vento norte, caprichoso como é (é do conhecimento de todos que o vento norte é dos quatro o mais caprichoso), sopra as margaridas anciãs contam a história da “margarida esquisita”, que afinal era uma açucena, e ensinam as sementes de margarida a respeitar e receber bem todas as flores que são diferentes delas.
Se uma pequena semente conseguiu mudar a maneira de pensar de todas as margaridas, imagina do que tu és capaz?!...

Um beijo de Sol para a mais bela Açucena

1 comentário:

Eclipse com Amor disse...

Neste dia mundial do livro infantil relembro esta histórinha que escreveste para mim e inspirada em mim com um sorriso nos lábios...
Esta é a história da minha vida! E o que é incrível, é como a conseguiste contar de forma tão espontânea e natural como se fosse tua. É nestes momentos que tenho a certeza que me conheceses tão bem ou melhor do que eu mesma.
Obrigada por tudo meu poeta e meu prosado, meu mágico e meu encantador, meu jardineiro e meu Amor.

Beijo meigo
Lua